quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pina Bausch (1940-2009) ... "a expressar melhor aquilo que nos move".


Confesso a minha ignorância, não conhecia a bailarina e coreógrafa Philippine "Pina" Bausch. Só fiquei a conhecê-la com a noticia da sua morte (30 de Junho de 2009):

- Morreu Pina Bausch (1940-2009) - Coreógrafa alemã Pina Bausch, amada pelo público português, desaparece vítima de cancro.
- Pina Bausch: "Eu sou só eu" - A bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch não deixa sucessão possível para a sua dança única.

Estive a pesquisar um pouco sobre a sua pessoa e o seu trabalho e aqui ficam uns excertos dumas entrevistas ao Expresso e alguns vídeos disponiveis no youtube que achei interessantes.


Aguns excertos da entrevista Um país imenso de Pina Bausch ao Expresso (publicada na edição do Expresso de 9 de Janeiro de 2003):

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Expresso: Em estúdio, os materiais de trabalho são transformados em propostas e em perguntas que faz aos bailarinos...
Pina Bausch: Não são simples perguntas.

Expresso: Sugestões de situações...
Pina Bausch: Sim, ver o que eles sentiram com determinadas coisas... aí faço cem ou mais perguntas sempre relacionadas com temas. Elas inserem-se num círculo temático do qual vai saindo algum material mas que ainda não se parece com nada. As propostas são tão simples como directivas para fazer fazer, jogar, correr, coisas que talvez depois apareçam nas peças.

Expresso: Em que espécie de estrutura insere essas respostas?
Pina Bausch: Esse é um capítulo completamente diferente que tem a ver com a ordenação das coisas que se encontraram e que dão origem a novas perguntas e a novas ideias. Essa é a parte da composição que muitas vezes é constituída por detalhes muito pequenos. Mas isto começa assim e eu não sei exactamente para onde segue, depois abandono essa sequência e dedico-me a outra. É como se houvesse uma data de pontos isolados que eu vou aumentando, depois começo por juntar dois destes pequenos blocos, experimento se deve ser de um modo ou de outro, qual primeiro ou depois, é um processo de muito, muito trabalho de experimentação.

Expresso: Passa por uma fase em que tem à sua frente uma grande colecção de materiais?
Pina Bausch: Sim. E depois deito fora.

Expresso: Quantos espectáculos é que ficam no que deita fora?
Pina Bausch: Talvez utilize nos espectáculos cinco por cento de tudo o que experimento. Talvez cinco por cento. Mas recomeço sempre do zero.

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Expresso: Como é que surge assim agora, com esta força positiva?
Pina Bausch: Talvez venha da vida. Eu própria me admirei com o resultado da peça de Lisboa...

Expresso: Existe uma dança que é mais feliz que outra?
Pina Bausch: Não sei responder se há uma dança mais feliz que outra. O que é maravilhoso na dança é que é sempre "no momento" e não existe mais nenhum momento quando se está naquele. Na dança não há ontem nem amanhã, só há dança. É fabuloso, é sempre única, não se pode repetir. Nunca se sabe o que poderá ser reconstituído de uma apresentação de dança. Extraordinário é o teatro, o público, as pessoas sobre o palco, a música, mas é tudo único de cada vez.

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Expresso: Uma tautologia: existe alguma separação entre o trabalho e a vida?
Pina Bausch: Não conseguiria separar, eu sou só eu.


Um excerto da entrevista Pina Bausch: um festival de dança-teatro de Pina Bausch ao Expresso (publicada na edição do Expresso de 25 de Abril de 2008):

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Expresso: Há a opinião de que a sua identidade como artista surge em meados da década de 1970, com peças que juntavam a música de Kurt Weill e os textos de Bertolt Brecht, como "The Seven Deadly Sins" (1976). É possível, hoje, dizer qual é a herança que deixa relativamente à transformação da dança?
Pina Bausch: Estive sempre tão ocupada a trabalhar que não tinha consciência do que significava o que fazia. Nem tinha oportunidade de ver outras coisas. De qualquer modo, quando estou a fazer um trabalho, nunca vejo o que os outros estão a fazer, porque isso significa que é algo que já está feito, e eu preciso é de encontrar a minha própria maneira de o fazer, a minha própria forma. Em todo o caso, para mim, o que é mais importante é a vida. O que importa é partilharmos o que estamos a sentir, aquilo de que temos medo, o que desejamos. Isto é o mais importante. Não tanto no sentido privado, pessoal, individual, mas sim no de todos nós, no sentido colectivo. Se cada um for ao fundo dos seus sentimentos, acredito que há uma linguagem que todos partilhamos, que todos falamos e na qual todos nos entendemos e nos encontramos. É dança, é movimento, mas é também tudo o que nos ajuda a expressar melhor aquilo que nos move.

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Um vídeo com um excerto da peça Masurca Fogo - "uma peça que representa um tempo inesquecível e importante, que passámos em Lisboa" (Pina Bausch na entrevista Pina Bausch: um festival de dança-teatro):



Um vídeo em jeito de trailler da peça Vollmond:



Um vídeo com um momento da peça Café Müller (para ver até ao fim!):



Um vídeo com um excerto da peça A Sagração da Primavera (música de Igor Stravinsky):